O dia era 13 de agosto de 1923. Quase sozinho na frente marítima de Copacabana, no Rio de Janeiro, um imponente edifício branco eleva-se a poucos metros do areal, pronto para abrir as portas ao mundo. A inauguração devia ter acontecido no ano anterior, por ocasião do centenário da independência do Brasil, mas uma série de problemas técnicos atrasou as obras e adiou-a. Nada que demovesse Octavio Guinle. E começava assim a história do Copacabana Palace, que celebra neste domingo cem anos de atividade.
A família de Guinle geriu o luxuoso hotel durante mais de 60 anos, até este ser comprado primeiro pelo grupo Orient-Express, em 1989, e depois pelo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SE, ou simplesmente grupo LVMH, o maior do mundo do luxo, em 2018.
“Mais do que um hotel, é uma instituição”, disse o agora diretor-geral Ulisses Marreiros à agência France-Presse, que teve o privilégio de ver, ao vivo, o preenchidíssimo livro de hóspedes guardado numa mala e que tem de ser manuseado com luvas brancas.
Dele constam assinaturas de lendas como o futebolista brasileiro Pelé e, na galeira de retratos de visitantes famosos do hotel que foi redesenhada para o centenário, há imagens de Josephine Baker, Bob Marley, Freddie Mercury, Madonna, Walt Disney, Brigitte Bardot, Robert De Niro e Rainha Isabel II.
A primeira estrela a visitá-lo foi, no entanto, a cantora e bailarina do Moulin Rouge Mistinguett, a mais famosa das artistas francesas no tempo em que atuou na inauguração do hotel.
A ela seguiram-se, ainda pela mão de Octavio Guinle, artistas como Edith Piaf, Ella Fitzgerald e Frank Sinatra, que cantaram no mítico Golden Room.
Projetado pelo arquiteto francês Joseph Gire, o Copacabana Palace foi inspirado em alguns dos hotéis mais emblemáticos da Riviera francesa, como o Carlton de Cannes, ou o Negresco, em Nice.
Em 1929, o então Presidente do Brasil Washington Luís foi baleado pela amante numa das suítes do hotel. Discretamente levado para o hospital, a justificação oficial apresentada pela Presidência foi a de que sofreu uma apendicite.
Outro episódio com referências mundiais é o de que Orson Welles, então hospedado no hotel, não soube lidar com um bloqueio criativo: teria pego a máquina de escrever e a atirou pela janela que dava para uma piscina. Nessa mesma piscina, na década de 1970, Janis Joplin nadou e acabou expulsa do hotel.
Já na era moderna, o príncipe Alberto II, do Mônaco, é um dos hóspedes recorrentes. “Sempre que vem aqui dá-me um abraço caloroso”, contou à AFP Antonio Francisco dos Santos, que trabalha no Copacabana Palace há 28 anos.
O príncipe “gosta de dar um mergulho cedo e depois saborear frutas tropicais, especialmente manga ou açaí, na sua mesa favorita à beira da piscina, que eu reservo para ele assim que chega”, disse o subgerente do restaurante Pérgula.
Por estes dias, a fachada do Copacabana Palace foi pintada para recuperar o branco original: “Quisemos aproximar-nos o mais possível do aspeto de 1923, utilizando ao mesmo tempo tecnologia de ponta para um sistema de iluminação que realça a beleza do edifício à noite”, explicou Ulisses Marreiros, o gerente, que procura “honrar o passado enquanto inspira o futuro”.
Fonte: tsf.pt