1,5 milhão na Vigília com Francisco, que invocou Maria e até o futebol

Cerca de 1,5 milhão de peregrinos encheram o Parque Tejo e suas imediações, segundo números das autoridades portuguesas informados pelo Vaticano, para o que foi até aqui o momento mais concorrido desta Jornada Mundial da Juventude, que termina neste domingo em Lisboa.

“O único momento em que é lícito olhar alguém de cima para baixo é quando estamos ajudando alguém a se levantar.” Foi com uma nova mensagem de inclusão e apelo à solidariedade que o Papa Francisco se dirigiu à multidão, que desde cedo começou a encher o Parque Tejo para acompanhar a Vigília, que configurou o ponto alto do penúltimo dia da Jornada Mundial da Juventude, iniciada neste dia com a visita de Francisco a Fátima.

Saco de dormir, comida, água e guitarras foram alguns dos bens essenciais dos peregrinos que participaram desta Vigília e que acorreram cedo ao Campo da Graça. As estradas junto ao Tejo encheram-se de jovens que tentavam chegar às respectivas seções. E nem mesmo o calor excessivo retirou o entusiasmo: não faltaram músicas ou o clássico grito “Esta é a juventude do Papa”.

O Campo da Graça tornou-se um lugar de “amizade e amor por Deus”, sublinhavam Maria Rita Coelho e Sara Pereira, da Póvoa de Lanhoso. “Este é um sentimento de paz, de compaixão, podermos estar todos reunidos num lugar como este. É muito bom poder presenciar um momento tão especial”, disse Maria Rita ao DN. “É bom estarmos em contato não diretamente com Deus, mas conseguir vivenciar aqui, em Lisboa, com a Jornada Mundial da Juventude, este sentimento de paz em nós que o Papa Francisco nos transmite”, dizia Sara.

Apesar da distância, a chegada do Papa foi vivida com emoção e entusiasmo, mesmo nas seções mais afastadas do palco. E todos beberam, mais uma vez, com emoção e ovações as palavras de Francisco nesta Vigília.

Voltando a fugir do discurso preparado, o Papa salientou que a alegria é “missionária”. E pediu aos jovens para repetirem: “A alegria é missionária!”.

Francisco lembrou que também a Virgem Maria teve de viajar para chegar à casa de Isabel. “Levantou-se e partiu apressadamente.” Poderíamos perguntar-nos: “Mas por que é que Maria se levanta e vai apressadamente ter com a prima?” Certamente porque acaba de saber que ela está grávida, mas também Maria o está. Então, por que foi ela, se ninguém lhe pediu? “Maria realiza um gesto não solicitado e sem ser obrigada, simplesmente porque ama e quem ama voa, corre feliz”, disse o Papa, pedindo aos jovens que sigam o exemplo de Maria e espalhem alegria. E que olhem para os “pais e avós, padres e freiras, catequistas, animadores, professores” como as “raízes da alegria”.

Para o Papa “mais importante do que não cair é levantar-se quando se cai. Quem não se levanta, é porque já se reformou”. E por isso pediu aos jovens para que não julguem os outros: “O único momento em que é lícito olhar uma pessoa de alto para baixo é para a ajudar a levantar-se”.
E invocou o futebol para apelar aos jovens que busquem a sua vocação. “Não sei se alguém aqui gosta de futebol. Eu gosto. Por trás de um gol, o que há? Muito treino! Por trás de um êxito, o que há? Muito treino!”, frisou. O esforço faz parte do caminho: “Não há nenhum curso que ensine a caminhar na vida. Isso se aprende”.

Num discurso mais rápido do que o previsto, o Papa despediu-se com um apelo aos jovens para que sigam em frente, “sem medo”.

A primeira parte da Vigília contou com uma atuação do Ensemble23, um grupo composto por 50 jovens de 21 nacionalidades. O início desta atuação remeteu para o uso excessivo dos celulares e como estes dominam a vida dos jovens. Umas das coisas que o Papa Francisco fez questão de relembrar aos jovens ao longo desta Jornada Mundial da Juventude é que devem estar presentes nas suas vidas e de todos aqueles que os rodeiam. Nesta atuação, mostrou-se uma jovem que encontrou a religião e como isto depois mudou a sua vida.

Toda a Vigília contou com o coro e orquestra da Jornada Mundial da Juventude 2023, composto por 210 cantores e 100 músicos de todas as dioceses de Portugal, dirigidos pela maestrina Joana Carneiro. Também esteve presente o coro Mãos, composto por seis pessoas surdas dirigidas pelo maestro Sérgio Peixoto com o apoio da intérprete Sofia Figueiredo.

Esta Vigília contou também com o testemunho de dois jovens sobre o papel da fé nas suas vidas. O padre Antônio Ribeiro explicou o seu caminho até ser padre e como este não foi um caminho linear e sim com algumas interrupções.

Marta Luís, de 18 anos, natural da província de Cabo Delgado, em Moçambique, contou como o terrorismo na região afetou a sua vida. A jovem e a sua família tiveram de fugir da sua aldeia e ir para o mato para conseguir sobreviver. “Em meio a todo sofrimento nunca perdemos a fé a esperança de que um dia vamos reconstruir de novo a nossa vida”, afirmou Marta.

No momento de Adoração, o silêncio no Parque Tejo foi total. Enquanto os peregrinos rezavam, as lágrimas foram inevitáveis para muitos.

Com o nervosismo evidente na sua expressão, a fadista Carminho interpretou a música Estrela, de sua autoria. A artista acabou por se emocionar neste momento em que cantou para Papa Francisco.

A Missa Final desta JMJ acontece neste domingo às 09h00.

sara.a.santos@dn.pt

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