O Papa Francisco recebeu nessa quarta-feira, na Nunciatura Apostólica, em Lisboa, um grupo de 13 vítimas portuguesas, que sofreram abusos na Igreja, e pediu “perdão em nome pessoal e em nome da Igreja”.
Segundo a presidente da Equipe de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, Paula Margarido, “foi um encontro profundamente difícil, mas reparador”.
“As vítimas tiveram a oportunidade de ter em frente a elas o Santo Padre que as olhou nos olhos, que se emocionou e que se abriu ao coração a cada uma delas”, afirmou, em entrevista à SIC Notícias.
“Na tarde de hoje [quarta-feira], após o final dos encontros institucionais e com a Igreja, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura um grupo de 13 pessoas, vítimas de abusos por parte dos membros do clero, acompanhadas por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores”, adianta, num breve comunicado.
Segundo o comunicado, o encontro, que aconteceu no primeiro dia da visita do Papa a Portugal para presidir a Jornada Mundial de Juventude (JMJ), que termina no domingo, “decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora, concluindo-se pouco depois das 20h15”.
No encontro, estiveram alguns representantes de instituições encarregadas da tutela de menores na Igreja em Portugal: Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA; Paula Margarido, presidente da Equipe de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas; Pedro Strecht, coordenador da ex-Comissão Independente.
Este encontro não estava na agenda pública, com o intuito de manter o secretismo e a proteção da identidade das vítimas, tendo ocorrido no primeiro dia da visita do Papa a Portugal, para presidir a Jornada Mundial de Juventude (JMJ).
CEP diz que encontro é caminho de reconciliação da Igreja
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) considerou, nessa quarta-feira, que o encontro do Papa Francisco com as 13 vítimas de abusos na Nunciatura Apostólica, em Lisboa, confirma o caminho da “reconciliação que a Igreja Portuguesa” tem procurado fazer.
“Este encontro do Santo Padre representa a confirmação do caminho de reconciliação que a Igreja em Portugal tem percorrido neste âmbito, colocando as pessoas vítimas em primeiro lugar, colaborando na sua reparação e recuperação, de forma que lhes seja possível olhar o futuro com esperança e liberdade renovadas”, informa uma nota da CEP.
O último ano e meio foi marcado pelos casos de abusos sexuais na Igreja portuguesa, que saltaram para o domínio público e deram origem a uma Comissão Independente.
Em novembro de 2021, mais de duas centenas de católicos defenderam que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) deveria “tomar a iniciativa de organizar uma investigação independente sobre os crimes de abuso sexual na Igreja”, tendo sido criada uma Comissão Independente para o Estudo dos Abusos de Menores na Igreja, coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht.
Esta comissão iniciou o seu trabalho em 11 de janeiro de 2022, apresentou resultados em fevereiro deste ano e anunciou a validação de 512 testemunhos de alegados casos de abuso em Portugal, apontando, por extrapolação, para pelo menos 4.815 vítimas, entre 1950 e 2022, o espaço temporal abrangido pelo trabalho da comissão.
No relatório, a comissão alertou que os dados recolhidos nos arquivos eclesiásticos sobre a incidência dos abusos sexuais “devem ser entendidos como a ‘ponta do iceberg'” deste fenômeno.
Na sequência destes resultados, algumas dioceses afastaram, cautelarmente, sacerdotes do ministério.
Fonte: dn.pt