Macron fica em silêncio e França “blinda-se” para o Dia da Bastilha

Presidente não fará o balanço dos "100 dias de apaziguamento" lançados após a reforma das pensões. Segurança reforçada para evitar motins, como os que se seguiram à morte de ​​​​​​​Nahel.

A 17 de abril, com a tensão social ao rubro por causa da aprovação da reforma das pensões, o presidente francês pediu “100 dias de apaziguamento, de união, de ambição e de ação ao serviço da França”. Emmanuel Macron prometeu relançar o seu mandato no final desse prazo, que coincidia com o Dia Nacional, no aniversário da Tomada da Bastilha a 14 de Julho de 1789.

Contudo, e depois desse “apaziguamento” ter sido abalado pelas noites de motins após a morte de Nahel baleado por um polícia, o Eliseu anunciou que Macron não fará um discurso, nem dará uma entrevista esta sexta-feira. E para evitar a repetição da violência de há 15 dias, a segurança foi também reforçada já a partir desta noite.

Desde que chegou ao Eliseu, em 2017, Macron só em duas ocasiões deu uma entrevista para assinalar o Dia da Bastilha – em 2020 e 2022. O seu antecessor, o socialista François Hollande, não falhou uma. Mas, este ano, havia a expectativa de que Macron pudesse repetir o gesto, precisamente devido ao calendário que ele próprio estabeleceu para acalmar a situação nas ruas. Contudo, a Presidência anunciou que o presidente não irá falar a 14 de Julho, prometendo contudo que se pronunciará “nos próximos dias”. Não foi, no entanto, revelada nenhuma data específica.

A alteração à lei das pensões, que entre outras medidas aumentou a idade de reforma dos 62 para os 64 anos, foi aprovada com o recurso à “bomba atómica” constitucional – o artigo 49.3 – sem receber o aval dos deputados. Isso incendiou ainda mais a polémica, com os franceses a saírem à rua em protestos e a fazerem greve, temendo-se o repetir da contestação dos coletes amarelos de 2018. O apelo de Macron aos “100 dias de apaziguamento”, seguido de viagens do presidente a vários pontos do país, o cansaço dos franceses com os protestos e a decisão dos juízes do Conselho Constitucional de validar a reforma já no início de maio tiraram fôlego às manifestações.

A morte de Nahel, de 17 anos, atingido a tiro após ter alegadamente recusado parar num controlo de trânsito em Nanterre, veio pôr em causa o “apaziguamento”. A violência irrompeu pelas ruas de várias cidades francesas logo no dia 27 de junho, mantendo-se ao longo de oito dias, e saldou-se com quase seis mil carros queimados, mais de mil edifícios danificados, perto de 3500 detenções e mais de 700 polícias feridos.

Na contagem decrescente para o Dia da Bastilha, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, anunciou ontem o destacamento de um “dispositivo excecional” de 45 mil polícias e guardas para as noites de hoje e amanhã. Um número igual ao que foi usado nos últimos dias dos motins, para travar a violência. Além disso, estarão em prevenção 40 mil bombeiros em cada uma das noites.

O reforço de segurança incluirá unidades de elite das várias forças policiais, mas também helicópteros e veículos blindados, esperando-se que atuem como dissuasoras da “extrema violência” que se viveu no final de junho e início de julho em muitas cidades. As medidas podem prolongar-se, se necessário, até à noite de sábado.

O governo francês já tinha proibido, no domingo, a venda e o uso de fogos de artifício durante o feriado, para evitar que possam ser usados contra as forças de segurança. “A fim de evitar o risco de grave desordem pública durante as festividades de 14 de Julho, a venda, o porte, transporte e uso de artigos pirotécnicos e fogos de artifício estão proibidos em toda a França até 15 de julho inclusive”, diz o decreto, que não se aplica a profissionais autorizados e a municípios. Ainda assim, várias localidades cancelaram os espetáculos previstos, nomeadamente na Região de Paris. Na capital está, contudo, confirmado o habitual concerto e espetáculo junto à Torre Eiffel.

Modi é o convidado

No ano passado, os convidados para as comemorações do 14 de Julho foram os países da Europa de Leste. Este ano, a honra cabe ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, com um contingente indiano a desfilar ao lado dos franceses no tradicional desfile militar. A França, como outros países ocidentais, está a tentar reforçar os laços económicos e estratégicos com a Índia, procurando uma alternativa à China no Indo-Pacífico. A visita de Modi marca “uma nova fase na parceria estratégica entre a França e a Índia”, indicou o Eliseu.

Além do desfile militar, o primeiro-ministro indiano será convidado de honra num jantar para mais de 200 pessoas no Museu do Louvre, tendo direito a uma visita guiada para ver algumas das principais obras expostas. A quinta viagem de Modi a França começa contudo já hoje, com encontros com artistas indianos que estão a participar no Festival Namasté France (que serve para reforçar os laços culturais entre os dois países) e um jantar privado com o presidente francês.

Por susana.f.salvador@dn.pt

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