José Wilson Siqueira Campos nasceu em Crato, no Ceará, em 1º de agosto de 1928. Filho de Pacífico Siqueira Campos e Regina Siqueira Campos, que morreu de parto quando ele tinha apenas 12 anos de idade. Com muitas dificuldades materiais e sob privações que criança alguma deveria passar, o menino Siqueira Campos foi criado por seu pai, mas passou algum tempo nas ruas, dada a pobreza extrema que enfrentavam.
Desbravador desde a infância, Siqueira Campos alcançou a adolescência e passou a viajar pelo país, por quase dez anos, em busca de oportunidades, enfrentando inúmeras dificuldades e chegando a não ter onde morar. Se houvesse um filme mostrando essa fase da sua vida, a gente veria numa projeção em preto e branco, cheia de riscos, o menino Siqueira inteligente e humilde se comportando como um homem adulto que precisava resolver logo os seus problemas e os problemas da sua família.
Siqueira sempre foi resiliente, muito resiliente. Superou adversidades e, no decorrer da sua vida, se dedicou ao serviço público e à defesa dos interesses das pessoas, principalmente dos que passavam por necessidades. Sua experiência vivida nas ruas e sua atuação na área rural contribuíram para moldar sua visão política e o impulsionaram a lutar pela criação do estado do Tocantins, com o objetivo de mudar a realidade da vida daquelas pessoas.
Lá no começo da sua história, quando mal entrava na adolescência, ainda aos 12 anos de idade, Siqueira Campos já via a necessidade de trabalhar e desempenhou vários ofícios. Sua maior habilidade era aprender, observar e ter humildade para crescer. Dentre os trabalhos em que atuou, está a função de office boy no escritório de Luiz Carlos Prestes, no Rio de Janeiro. Em seguida, Siqueira compôs uma comitiva de jovens trabalhadores enviados pelo governo Getúlio Vargas à região amazônica, onde trabalhariam com a extração de látex, nos seringais; era o Ciclo da Borracha, uma fase da economia brasileira que teve o objetivo de atender às demandas do mercado internacional. Esse ciclo econômico se concentrou na região amazônica e atraiu milhares de pessoas para trabalhar na atividade, sobretudo pessoas da região Nordeste.
Siqueira Campos embarcou de Santos para a Amazônia, e, em 1944, aos 16 anos de idade, conseguiu fugir dos maus tratos sofridos nas fazendas de seringais e foi ao Rio de Janeiro denunciar o trabalho escravo a que os operários da borracha eram submetidos. Como não conseguiu falar diretamente com o então presidente Getúlio Vargas, Siqueira procurou a redação do jornal O Globo, que publicou reportagem e uma foto do jovem que denunciava a situação nos seringais naquela época.
Depois disso, Siqueira Campos trabalhou em diversas atividades nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, de onde partiu com a família: a esposa, dona Aureny, e seus seis filhos, Regina, Thelma, Júnior, Stela, Eduardo e Ulemá, para o norte do estado de Goiás, em 1963. Foi somente quando chegou à cidade de Colinas, no então Norte de Goiás (atual Colinas do Tocantins), trazendo a família, dona Aureny, esposa, e os seis filhos pequenos, em um caminhãozinho de carroceria de madeira. Foi uma viagem de 14 dias, de São Paulo até Colinas.
Na nova terra, Siqueira Campos começou a trabalhar na área rural, o que despertou nele a vocação política, pois viu as privações daquele povo que habitava a região. O norte de Goiás era conhecido como “o corredor da pobreza”, dada a precariedade de moradia, trabalho e desenvolvimento.
Diante disso, Siqueira Campos fundou a Cooperativa Goiana de Agricultores e liderou um movimento popular que pedia a criação do estado do Tocantins. Foi aí que sua luta pela divisão do estado de Goiás começou e tornou-se a grande razão de sua vida. Uma frase virou lema na caminhada de Siqueira neste mundo: “enquanto há vida tem que haver amor. E, se tem amor, tem que haver trabalho voltado para todos, para o bem comum”. Ele se tornou um líder, um dos maiores na história desse país.
Sua atuação e envolvimento na comunidade lhe renderam apoio e reconhecimento, levando-o a se candidatar e ser eleito vereador de Colinas, em 1965, recebendo a maioria dos votos naquele pleito.
Ao longo de sua carreira política, Siqueira Campos foi filiado a diferentes partidos, como ARENA, PDS, PDC, PFL, PL e PSDB, demonstrando sua capacidade de adaptação e seu engajamento em diferentes correntes políticas ao longo do tempo. A capacidade, inteligência e estratégia política de Siqueira Campos o tornaram um diferencial, uma referência, e o levaram a conquistar a admiração e o respeito nos diversos grupos políticos.
Após o mandato de vereador, Siqueira foi eleito deputado federal, sendo reeleito por mais quatro mandatos consecutivos e permanecendo no cargo entre 1971 e 1988, enquanto representante do norte goiano. A causa separatista era a sua principal bandeira e chegou a fazer uma greve de fome de 98 horas após veto de José Sarney, então presidente do Brasil, ao projeto de criação do Tocantins.
Sua próxima estratégia era ser Deputado Constituinte, no que alcançou êxito. Siqueira foi, inclusive, eleito pelos pares Relator da Subcomissão dos Estados da Assembleia Nacional Constituinte (ANC), presidida pelo saudoso deputado Ulisses Guimarães, tendo redigido e entregado a ele a fusão de emendas (conhecida como Emenda Siqueira Campos) que, aprovada, deu origem ao estado do Tocantins, na promulgação da Constituição Federal de 1988.
Tocantins é criado
A criação do Tocantins, pelos deputados membros da Assembleia Constituinte, finalizou uma luta de quase 200 anos dos moradores do então norte de Goiás em prol da divisão do Estado, trazendo a perspectiva de desenvolvimento para uma região que viveu séculos de relativo isolamento. Com o Tocantins finalmente criado, Siqueira Campos se elegeu o primeiro governador, para mandato de dois anos (de 1 de janeiro de 1989 a 15 de março de 1991). Nessas eleições, foi eleito na oposição aos governos federal e estadual de Goiás, sendo que este último ainda exercia grande influência sobre a política do recém-criado Tocantins.
Foi também responsável pela construção da capital Palmas, que é em tese a última cidade brasileira planejada do século 20. À época, a decisão da construção de uma nova cidade para abrigar a capital foi amplamente criticada, sobretudo pelos prefeitos das maiores cidades do Tocantins e pelos maiores líderes que enxergavam na proposta um desperdício de recursos.
No campo das atividades profissionais, ele foi Diretor do Ipeac, o Instituto de Pesquisas, Estudos e Assessoria do Congresso, em 1973. Também assumiu a Presidência do Simpósio Nacional da Amazônia, um evento de relevância no contexto político e ambiental.
O perfil intelectual e político de Siqueira Campos revelou um indivíduo respeitado pelos mais diversos grupos na política brasileira. Sua experiência vivida nas ruas e sua atuação na área rural contribuíram para moldar sua visão política e o impulsionaram a sempre seguir em frente na sua luta pela criação do estado do Tocantins. (Redigido por Adriana Borges; fotos: arquivo da Família Siqueira Campos; Secom/TO; Elson Caldas)