O rei neerlandês Willem-Alexander emitiu um histórico pedido de desculpas real, este sábado, pelo envolvimento dos Países Baixos na exploração da escravidão, dizendo que se sentiu “pessoalmente e intensamente” afetado.
Milhares de descendentes de escravos da nação sul-americana do Suriname e das ilhas de Aruba, Bonaire e Curaçao participaram nas comemorações em Amesterdão do “Keti Koti” para comemorar os 150 anos desde que a prática foi abolida.
“Hoje estou aqui à vossa frente como rei e como parte do governo. Hoje peço desculpa pessoalmente”, disse Willem-Alexander sob aplausos da multidão.
“Estou a viver isso intensamente com o meu coração e a minha alma”, disse o monarca aos participantes do evento.
O primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, já tinha pedido desculpa oficialmente em dezembro, em nome do governo.
“O comércio de escravos e a escravidão são reconhecidos como um crime contra a humanidade”, disse o rei.
“Os monarcas e governantes da Casa de Orange não tomaram medidas contra isto.”
“Hoje, peço perdão pela clara falta de ação”, disse Willem-Alexander no discurso, transmitido ao vivo pela televisão.
Antes da cerimónia, descendentes de escravos pediram ao rei que aproveitasse a ocasião para se desculpar.
“A comunidade afro-neerlandesa considera isto importante”, disse Linda Nooitmeer, presidente do Instituto Nacional de História e Legado da Escravidão Neerlandesa, à emissora pública NOS.
‘Homenagens coloniais’
Desde que o movimento Black Lives Matter surgiu nos Estados Unidos, os Países Baixos embarcaram num debate muitas vezes difícil sobre o passado colonial e o comércio de escravos.
E a realeza holandesa frequentemente encontra-se no centro do debate.
Um estudo holandês divulgado em junho descobriu que a família real ganhou 545 milhões de euros, em valores atuais, entre 1675 e 1770 nas colónias, onde a escravidão era generalizada.
Em 2022, o rei Willem-Alexander anunciou que ia abandonar o Royal Golden Coach, coche que tradicionalmente o transportava em ocasiões de estado, porque tinha imagens de escravidão nas laterais.
Um painel lateral tinha uma foto chamada “Homenagem às Colónias”, retratando pessoas negras ajoelhadas entregando produtos como cacau e cana-de-açúcar a senhores brancos.
Em dezembro, Rutte descreveu a escravidão como um “crime contra a humanidade” quando apresentou o tão esperado pedido de desculpas, e os ministros holandeses viajaram para sete ex-colónias.
O rei disse, dias depois, no seu discurso de Natal, que o pedido de desculpas do governo foi o “início de uma longa jornada”.
Fonte: dn.pt