Submarino com turistas que visitavam o Titanic continua desaparecido

A Guarda Costeira dos EUA está numa luta contra o tempo para encontrar o submersível com cinco pessoas a bordo usado para observar os destroços do Titanic, localizados nas profundezas do Atlântico.

O Titan desapareceu no domingo, mas só tem capacidade para permanecer até quatro dias debaixo de água.

Partiu do porto de São João da Terra Nova, no Canadá, levando a bordo cinco passageiros, mas desapareceu quando se aproximava dos destroços do Titanic, situados a cerca de 600 quilómetros da costa de Newfoundland.

O submersível Titan, que não é autónomo e precisa de uma embarcação de base, está a ser amplamente procurado pelas autoridades norte-americanas e canadianas depois de uma comunicação com os passageiros ter sido perdida pouco mais de uma hora desde o início da viagem.

Que operações estão a ser realizadas?

Dois aviões C-130 da Guarda Costeira dos EUA e outras aeronaves do Canadá, tal como navios de grande porte, estão a fazer buscas intensas que se prolongaram durante a noite. No entanto, as operações estão a ser “complexas”, uma vez que as autoridades não sabem se a embarcação emergiu, o que obriga à realização de trabalhos tanto na superfície como nas profundezas do Oceano Atlântico, explicou John Mauger, primeiro comandante distrital da Guarda Costeira dos EUA, em declarações ao jornal “The Guardian”.

As buscas decorrem numa área a “cerca de 1450 quilómetros a leste de Cape Cod [Estados Unidos], a uma profundidade de cerca de quatro mil metros”, precisou Mauger, citado AFP.

As equipes estão a tentar direcionar um veículo operado remotamente (ROV, sigla em inglês) para uma profundidade de seis mil metros. Uma vez submerso, o ROV poderá manter-se ligado por um “cordão umbilical”, o que permite ao utilizador operar os propulsores e transmitir dados em tempo real.

Em declarações à BBC, Mike Reiss, um escritor que participou na expedição no ano passado, mostrou-se, esta terça-feira, “pouco otimista” em relação à sobrevivência dos cinco passageiros. “Conheço a logística de tudo isto e sei quão vasto é o oceano e quão minúsculo é o submersível. Se estiver no fundo, não sei como alguém poderá ter acesso, muito menos trazê-lo de volta”, frisou.

O tempo é, neste caso, um fator crítico. O submersível conta com 96 horas de autonomia para uma tripulação de cinco pessoas, mas, tendo em conta que os exploradores seguiram a bordo no domingo, pode não restar muito tempo às autoridades para os encontrar com vida.

De acordo com as autoridades, os passageiros estão a fazer uso do oxigénio desde as 6.00 horas de domingo (horário local), sendo que, em teoria, poderão ter acesso ao recurso vital até à manhã de quinta-feira. No entanto, a existência de oxigénio no submersível pode ser afetada pela taxa de respiração, sobretudo se algum dos passageiros tiver pouca experiência em mergulho.

Frank Owen, ex-diretor do projeto australiano Submarine Escape and Rescue, explicou à BBC que se os passageiros “começarem a entrar em pânico ou a movimentarem-se demais, podem exceder as taxas de respiração”.

Quem são os desaparecidos?

Dentro do submersível viajam cinco homens: Hamish Harding, Paul-Henry Nargeolet, Shahzada e Sulaiman Dawood e Stockton Rush.

Hamish Harding, de 58 anos, é um milionário britânico, conhecido por ser o presidente da empresa de aviões privados Action Aviation, e está entre os desaparecidos, informou a Guarda Costeira de Boston. Um dia antes de embarcar na expedição, o empresário informou no Facebook que estava prestes a realizar “um sonho”, ao anunciar que se tinha juntado “à OceanGate Expeditions para a sua missão RMS TITANIC”.

Harding é, atualmente, detentor de três recordes do Guiness, todos relativos às aventuras nas quais tem participado nos últimos anos. Em 2021, o britânico, que vive no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, fez um mergulho de quatro horas e 15 minutos na Fossa das Marianas, também com recurso a um submersível. Anteriormente, o magnata, que tem uma enorme paixão por aviões, já realizou inúmeras viagens ao Polo Sul e, no ano passado, foi uma das pessoas a ir ao espaço com a empresa Blue Origin, de Jeff Bezos.

Shahzada Dawood, de 48 anos, um dos homens mais ricos do Paquistão, e o filho Sulaiman, de apenas 19 anos, também seguiam a bordo do Titan, informou a família. O empresário, que tem nacionalidade britânica, é vice-presidente da Dawood Hercules Corporation, parte do Dawood Group, um conglomerado de vários negócios pertencentes à família, sendo ainda curador do Instituto Seti, uma organização cuja missão é explorar e compreender a origem do universo, que fica na Califórnia, nos EUA.

No submersível viajava também Paul-Henry Nargeolet, um ex-comandante da Marinha francesa, que é considerado o maior especialista no naufrágio do Titanic. O francês fez parte, em 1987, da primeira expedição para recuperar objetos do navio e, desde então, liderou várias visitas ao local, supervisionando a recuperação de cinco mil artefactos.

Segundo a “Sky News”, o CEO da OceanGate Expeditions (empresa que organizou a viagem), Stockton Rush, pode também estar entre os passageiros, mas ainda não há uma confirmação oficial. Numa entrevista concedida no ano passado à CBC, o norte-americano mostrou detalhes do interior do submersível Titan e assegurou que os exploradores estariam seguros e teriam o oxigénio necessário para sobreviver durante a expedição.

 

Quais são as característias do Titan?

O Titan é um submersível que pode transportar, no máximo, cinco pessoas. Geralmente, embarca um piloto e quatro especialistas de missão, que podem incluir arqueólogos, biólogos marinhos ou qualquer outra pessoa que pague para usufruir da experiência – o que pode ter um custo de 250 mil dólares (cerca de 228 mil euros).

No site oficial da empresa que fabrica o submersível Titan, a OceanGate, é possível ter acesso a detalhes específicos sobre o aparelho, que é feito com fibra de carbono. O veículo pode chegar aos quatro mil metros de profundidade e alcançar uma velocidade de 5,5 km/h. Mede 6,7 metros de comprimento por 2,8 metros de altura e pesa 10 432 quilos.

O Titan, que é descrito no site da firma como “inovador” por ser “mais leve e mais económico”, tem capacidade de carga útil de 685 quilos, sendo movido por quatro propulsores elétricos. Já a autonomia é de cerca de 96 horas, o que torna curto o tempo restante para o resgate dos que se encontram dentro do veículo.

A OceanGate refere ainda que a janela de visualização de Titan é “a maior de todos os submersíveis de mergulho profundo”, destacando que a tecnologia usada oferece uma “visão incomparável” do oceano profundo.

O veículo usa a tecnologia de satélite Starlink, da empresa SpaceX, de Elon Musk, para comunicar, embora não seja claro se a falha existente esteja relacionada com algum problema na plataforma.

O que pode ter corrido mal?

Os especialistas colocam em cima da mesa três hipóteses: o Titan pode ter ficado preso entre os destroços do Titanic; pode ter havido uma falha de energia ou um problema com o sistema de comunicação do submersível.

“Embora o submersível ainda possa estar intacto, se estiver muito além da plataforma continental, há pouquíssimas embarcações que podem chegar a um nível tão profundo”, esclareceu Alistair Greig, professor de Engenharia Naval da University College London, ao “The Guardian”.

O navio Titanic afundou-se na viagem inaugural entre o Reino Unido e os Estados Unidos em abril de 1912, depois de ter colidido com um icebergue. O desastre custou a vida a 1514 dos 2224 passageiros e tripulantes. Contudo, os destroços do luxuoso veículo só foram encontrados em 1985, mais de sete décadas depois do naufrágio. Desde então, o local tem sido extensivamente explorado.

Fonte: jn.pt

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