Covid-19 – Virologista chinês diz que Pequim “não aprendeu a lição” da pandemia

O virologista chinês Jin Dong-Yan disse à Lusa que a China "não aprendeu a lição" dada pela pandemia e que a política "zero covid" se prolongou muito além do necessário devido a "orgulho nacionalista".

As autoridades chinesas “tentaram simplesmente virar a página” após levantarem, no final de 2022, as restrições impostas para tentar conter o novo coronavírus, lamentou o professor da Universidade de Hong Kong.

“Talvez tenha sido porque estavam demasiado confiantes de que estava tudo sob controlo, porque acharam que era apenas gripe aviária”, disse Jin, referindo-se ao vírus H5N1, que matou seis pessoas em Hong Kong entre 1997 e 2002.

O resultado, lembrou o especialista, foi que a Organização Mundial da Saúde só foi informada “quando já era realmente tarde”. “E mesmo quando os hospitais [de Wuhan] estavam cheios de pacientes, eles ainda estavam a tentar fazer os possíveis para o esconder”, lamentou.

No entanto, o Governo chinês tem “apresentado aqueles que cometeram estes erros como heróis nacionais”, algo que Jin descreveu como “realmente contraproducente”.

Até porque o virologista disse acreditar que “teria sido possível controlar a situação”, se a quarentena tivesse sido implementada em Wuhan “muito mais cedo, por exemplo em dezembro de 2019”.

O professor da Universidade de Hong Kong lembrou que a região chinesa “esteve praticamente livre do coronavírus durante um período relativamente longo”, até ao final de 2021, com o surgimento da Ómicron.

Com a nova variante, “demasiado infecciosa, demasiado transmissível”, “a política ‘zero covid’ já não funciona”, defendeu Jin. E, tendo em conta que a Ómicron é “também menos patogénica”, o preço a pagar pela sociedade “é demasiado elevado”, acrescentou.

A política ‘zero covid’ incluía a imposição de bloqueios em bairros ou cidades inteiras, que podiam demorar meses, a realização constante de testes em massa, e o isolamento de todos os casos positivos e contactos diretos em instalações designadas.

Ainda assim, a China só abandonou a política em dezembro de 2022, após uma onda de protestos em várias das principais cidades chinesas, numa exibição pública invulgar de desaprovação das políticas do líder Xi Jinping.

Jin Dong-Yan defendeu que a China manteve o rumo devido a questões de “orgulho nacionalista” e lembrou que, mesmo depois de a política ter sido abandonada, as autoridades continuam a insistir que “tinham estado certas na altura”.

Mas o virologista disse acreditar que, se o Governo “não tivesse desperdiçado tanto dinheiro em testes a toda população, poderia ter usado esses recursos para reforçar o sistema de saúde e comprar mais antivirais e vacinas mais eficazes” para preparar a reabertura.

Jin lamentou que só a China e a Rússia não tenham até ao momento aprovado a vacina produzida pela Pfizer-BioNTech.

Em meados de fevereiro, altura em que China declarou uma “vitória decisiva” contra a pandemia, o fim da política ‘zero covid’ tinha oficialmente causado 83.150 mortes, um número que especialistas disseram estar “certamente aquém” da realidade.

“Os dados são certamente uma subestimação do número real”, afirmou à Lusa o epidemiologista e estatístico na área médica Ben Cowling, apontando que os testes laboratoriais de deteção do vírus “deixaram de ser realizados com frequência nos hospitais”, pelo que a “maioria dos casos, hospitalizações e mortes pela doença [na China] não foram confirmadas laboratorialmente”.

As autoridades chinesas têm promovido uma teoria da conspiração que acusa os Estados Unidos de desenvolver o SARS-CoV-2 no laboratório militar de Fort Detrick, como uma arma biológica.

Uma teoria “absurda”, diz Jin Dong-Yan, uma vez que “ninguém em Fort Detrick estava a estudar os coronavírus”. “Não é como se os americanos estivessem a desenhar vírus para infetar chineses”, acrescentou.

Por outro lado, o especialista também descreveu como “sem provas e infundadas” as alegações de que um acidente de laboratório em Wuhan esteve “muito provavelmente” na origem da pandemia, feitas no final de fevereiro pelo diretor do FBI, Christopher Wray.

Mas o virologista admitiu que “é a política errada [das autoridades chinesas] de ser menos aberto, menos transparente, que dá espaço para que esta teoria da conspiração ganhe asas”.

fonte: jn.pt

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