Chegando à casa dos quatro mil estudantes, o Campus Palmas do Instituto Federal do Tocantins (IFTO) completou 20 anos de atividades no último dia 4 de abril. Criado pela Lei nº 11.892/2008, que instituiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, a unidade integra a maior instituição de educação profissionalizante do Tocantins.
Sua história em Palmas remonta-se ao início dos anos 90, quando o então Prefeito Eduardo Siqueira Campos buscou, em Brasília, conversar com o Presidente da República da época, Itamar Franco, e respectivo ministro da Educação, Murilo de Avelar Higel, sobre a necessidade da implantação de uma unidade da Escola Técnica Federal (ETF) na mais nova capital do Brasil. Eduardo foi prontamente atendido, tendo colocado, juntamente com o então Governador Siqueira Campos, a Prefeitura de Palmas e o Governo do Estado à disposição do Governo Federal, para viabilizar e agilizar a construção da unidade da ETF em Palmas.
A diretora-geral do IFTO/Palmas, Noemi Barreto Sales Zukowski, recebeu a reportagem do portal RJN em seu gabinete, na sede da instituição, em Palmas, para uma entrevista exclusiva, na qual ela fala sobre a história da instituição, sua estrutura, cursos e, também, os grandes desafios de conduzir, administrar e cuidar do futuro profissional de milhares de jovens. Antes, porém, de mostrar a entrevista, faz-se necessário apresentar, resumidamente, a primeira mulher eleita para dirigir a instituição em Palmas.
Noemi Zukowski atua na área da Educação há 33 anos. Graduou-se em Pedagogia pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), SP, em 1995. Possui vasta experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Profissional e Tecnológica (EPT). É mestre em Educação pela UnB na área de Políticas Públicas para EPT (2013). Servidora da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica há 14 anos, atuou na área técnico-educacional como Orientadora, Coordenadora, Gerente de Ensino, Diretora de Ensino e do IFTO/Campus Palmas e Diretora de Gestão Educacional do IFTO (Reitoria). Esteve como Coordenadora do Núcleo de Apoio Pedagógico e Experiência Docente do ITPAC/Porto Nacional. Atualmente, é a diretora-geral do Campus Palmas do IFTO. Com foco em capacitação em Metodologias Ativas, atende demandas de palestras educacionais e capacitação docente. Além da atuação profissional, desenvolve ações e projetos na área da música e na área social. É palestrante na área educacional e motivacional para pais, jovens e adolescentes.
Rede Jovem News: Dona Noemi, a senhora é a primeira mulher a ser eleita como diretora-geral do Campus Palmas, do Instituto Federal do Tocantins, o IFTO. Como a senhora entra nessa história? O que a senhora traz de experiência e quais são os principais desafios de dirigir uma instituição tão séria e tradicional na história da educação tecnológica do Brasil, com quase quatro mil alunos?
Noemi Zukowski: A Educação sempre esteve presente na minha vida. Sou pedagoga e mestre de formação, e servidora do IFTO há 14 anos. Quando eu aqui entrei ainda era Escola Técnica Federal; peguei os últimos momentos de Escola Técnica Federal, vi, vivi e participei da transição para o Instituto Federal de Educação, que se efetivou em 2008. Havia entrado como pedagoga e fui lotada no setor de coordenação técnico-pedagógica, onde pude contribuir por alguns meses como coordenadora do seto; fiz minha trajetória toda voltada para o ensino nesta instituição. Também estive à frente da gerência do ensino profissional integrado ao ensino médio; posteriormente, assumi a direção de ensino; e chegou o momento em que tive que tomar uma decisão, a de concorrer como candidata à diretoria-geral do Campus Palmas do IFTO. Na rede federal e instituições públicas, para todos os cargos mais altos da gestão são realizadas eleições. E fui questionada se sairia candidata para concorrer a esse cargo. Pelo amor que tenho à educação e à instituição que me acolheu, fiz parte desse processo democrático; participei do pleito e fui agraciada, tendo o prazer se ser eleita, legitimamente, como a primeira mulher diretora do Campus Palmas. Quem conhece um pouquinho da história e da estrutura do IFTO sabe que estar à frente de quase quatro mil alunos e de uma equipe de líderes, servidores e profissionais, docentes e administrativos, com cerca de 350 pessoas, é um desafio gigante. Além de tudo isso, temos que ter um compromisso muito grande com a comunidade, que espera e confia na nossa capacidade e na seriedade da instituição IFTO, que seja capaz de devolver profissionais de excelência, que não tenham apenas conhecimentos técnicos, mas a ética e a responsabilidade profissional, após receberem seus diplomas e estarem lá fora servindo a nossa sociedade.
Rede Jovem News: Gostaria que a senhora falasse da história geral da Escola Técnica Federal e, se possível, um pouco mais sobre a transformação em Instituto Federal de Educação e também sobre a chegada da instituição em Palmas.
Noemi Zukowski: Vamos fazer uma belíssima viagem de mais de 100 anos atrás, precisamente ao ano de 1909. A história das instituições federais de educação profissional, que compõem a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, começou em 1909, quando o então Presidente da República Nilo Peçanha criou 19 escolas de Aprendizes e Artífices que, mais tarde, deram origem aos Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Cefets).
Na década de 1980, um novo cenário econômico e produtivo se estabeleceu, com o desenvolvimento de novas tecnologias, agregadas à produção e à prestação de serviços. Então, a Rede Federal acelerou o processo de cobertura de todo o território nacional, prestando um grande serviço à nação, dando continuidade à sua missão de qualificar profissionais para os múltiplos setores da economia brasileira, realizando pesquisa e desenvolvendo novos processos, produtos e serviços, em colaboração com o setor produtivo.
Em 29 de dezembro de 2008, com a Lei nº 11.892, 31 centros federais de educação tecnológica (Cefets), 75 unidades descentralizadas de ensino (Uneds), 39 escolas agrotécnicas, sete escolas técnicas federais e oito escolas vinculadas a universidades deixaram de existir para formar os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
A Escola Técnica Federal em Palmas
Em Palmas, a Escola Técnica Federal chegou em 2003, sendo inaugurada em abril daquele ano, e tinha como diretor o Professor Adail Pereira Carvalho, nosso primeiro diretor. No início, eram poucos cursos (eletrotécnica, eletrônica e informática), poucos servidores e tudo era bem simples mesmo. Hoje, atendemos aproximadamente quatro mil alunos. São pessoas que buscam em nossa instituição oportunidade e inclusão e que, em pouco tempo, se tornarão grandes e competentes profissionais para o mercado de trabalho; isso sem contar as outras dezenas de milhares que passaram por aqui ao longo desses 20 anos.
Daquele começo relativamente humilde hoje nós do Campus Palmas, do Instituto Federal do Tocantins, ofertamos desde o Proeja – que é um programa de educação profissional de jovens e adultos, em duas modalidades de cursos – a graduações, capacitações técnicas e pós-graduações, em múltiplas áreas da aprendizagem profissional.
Também ofertamos oito cursos de ensino integrado, cursos subsequentes, licenciaturas, além de termos engenharia elétrica, engenharia civil, engenharia agronômica, zootecnia… capacitação em informática, eletrônica, mecatrônica, cursos na área inteligência artificial; a gama de cursos e as oportunidades aqui no IFTO são imensas. E essas oportunidades vão do Proeja ao mestrado, e já estamos estudando a possibilidade da implantação de doutorado na área da indústria.
Além dos cursos de progressão acadêmica que ofertamos, cursos oficiais, temos também cursos de qualificação rápida, cursos de formação didático-metodológica para os nossos professores e para a comunidade externa; na verdade, repito, uma gama de possibilidades para quem quer se qualificar. Somando-se a isso, temos os projetos de extensão, que chegam a escolas, comunidades carentes, como comunidades quilombolas, dos povos originários (indígenas) e outras.
A Escola Técnica, que se originou há quase 30 anos, hoje tem uma dimensão estadual, uma relevância a nível de Brasil e de mundo. Temos uma equipe que está indo para a China defender títulos do IFTO/Campus Palmas. Do início de nossas atividades de forma humilde, há mais de duas décadas, hoje somos a maior instituição de educação, ensino e qualificação tecnológica e profissional do Tocantins. E nos orgulhamos por fazer parte da construção da cidadania da comunidade palmense e tocantinense, tendo como base a ética e a criticidade.
Rede Jovem News: Sobre mercado de trabalho, existe um paradoxo. Por um lado, os trabalhadores reclamando da falta de emprego e a imprensa noticiando que existem cerca de 9,2 milhões desempregados no Brasil, neste mês de abril de 2023. Por outro lado, empresas de pequeno, médio e grande portes, empreendedores do agronegócio, da construção civil, profissionais liberais e até mesmo órgãos públicos, em busca de profissionais com especialização e melhor qualificação, que não encontram, com facilidade, pessoas com bons perfis profissionais disponíveis no mercado de trabalho. Nessa seara, ou seja, no meio desse paradoxo, onde entram os Institutos Federais de Educação, especialmente o IFTO/Campus Palmas?
Noemi Zukowski: Quando se trata de mercado de trabalho, nós temos que estar constantemente procurando entender o que o mercado precisa; isso porque o empresário necessita de profissionais qualificados, e ele tem dificuldade para conseguir esses profissionais. Nós temos que entender, fazendo a leitura das demandas, e ofertar cursos que contemplem as demandas do mercado. Por exemplo, algum tempo atrás, quando a rede hoteleira de Palmas estava se firmando, e ainda era bem incipiente (hoje já temos uma rede hoteleira significativa), foi identificada a necessidade de preparar profissionais para atender o mercado de hotelaria. Então, ofertamos desde cursos de qualificação rápida, como camareira, por exemplo, na modalidade FIC (Formação Inicial Continuada), a outros cursos de elevado aprimoramento profissional, dentre os quais o curso de turismo e hospitalidade. Identificamos nichos de carência de profissionais em áreas como construção civil, pela característica de Palmas, que é uma capital em construção; então, ofertamos cursos de engenharia civil, engenharia elétrica, bem como de edificação, de nível técnico. Ofertamos eletrotécnica, que também é uma atividade profissional sempre necessária.
Chamamos os empresários palmenses para virem dialogar com a gente. Fizemos o convite: “Venham, contem as suas necessidades!” Dentro da força de trabalho que nós temos, dos profissionais que temos nos quadros do Campus Palmas do IFTO, podemos assegurar que há e sempre haverá uma boa oferta de cursos voltados para atender as demandas do mercado de trabalho local e regional. Por sermos um estado essencialmente do agronegócio, também ofertamos os cursos de agronomia, agrimensura, agronegócios e zootecnia. Além disso, temos excelentes laboratórios, sempre atualizados e com tecnologia de ponta, para que os nossos estudantes tenham teoria e prática constantes, para quando forem para o mercado de trabalho não serem surpreendidos por algo que, às vezes, nem sabiam que existia.
E temos ainda os cursos do ensino médio integrado. E o que é isso? Veja bem, os alunos vêm pra cá e, ao saírem, eles levam, além do certificado de nível médio, a qualificação profissional, ou seja, saem verdadeiramente técnicos.
Dentro da nossa grade de cursos, temos ainda informática, mecatrônica (que é uma área que combina conhecimentos de elétrica, mecânica e informática, para criar máquinas inteligentes, controladas por computadores), eventos, gestão pública, administração e controle ambiental.
Então, seja na área de gestão, alta tecnologia ou prestação de serviços, nós procuramos atender o mercado com as maiores possibilidades disponíveis no momento. Lembrando, também, que as nossas ofertas têm a característica de inclusão; quando nós trabalhamos a qualificação profissional do jovem ou adulto, temos a consciência de que estamos oportunizando àqueles que não tiveram a oportunidade de estudar no “tempo certo” para fazerem seus estudos.
A visão da instituição é ampla; temos aqui a equipe pedagógica, que está à disposição do aluno para trabalhar a inclusão dos discentes que chegam aqui precisando de acompanhamento especial para que a aprendizagem aconteça. Temos, inclusive, intérpretes de libras, para acompanhar os nossos estudantes com deficiências oral e auditiva (surdos e mudos). Então, a importância e a relevância dos serviços que ofertamos hoje têm sempre como principal pilar a oportunização de acesso a um ensino público, gratuito e de qualidade para a nossa comunidade.
Fotos: IFTO Arquivo/Flávio Clark