O resultado foi obtido num ensaio clínico promissor daquele medicamento para o câncer de sangue mais comum nos adultos, publicado, esta quarta-feira, na revista científica “Nature”. Todos os anos, surgem cerca de 120 mil novos casos no mundo.
O Revumenibe foi testado em 68 pacientes, tendo conseguido fazer desaparecer os sinais cancerígenos em 18 dos participantes do ensaio clínico americano, iniciado a 5 de novembro de 2019 e terminado a 31 de março de 2022. Os resultados foram divulgados pela revista “Nature”.
Os resultados são preliminares e não significam uma cura definitiva, mas a comunidade científica está otimista. “Acreditamos que este medicamento é extraordinariamente eficaz e esperamos que esteja disponível para todos os pacientes”, afirmou o médico Ghayas Issa, do centro oncológico MD Anderson, da Universidade do Texas, que participou no estudo, também citado pelo jornal espanhol “El País”.
A leucemia mieloide aguda ataca o tecido das células sanguíneas e provoca a produção desenfreada de células defeituosas. Foi o que aconteceu à arquiteta lituana Algimante Daugelaite.
Após dois transplantes de medula óssea e o fracasso de todos os tratamentos convencionais, os médicos começaram a equacionar encaminhá-la para os cuidados paliativos. “Estava desesperada, era como viver num filme horrível. Senti que a morte era iminente e tinha apenas 21 anos de idade”, recorda. Há exatamente dois anos começou a tomar o comprimido Revumenibe, conseguiu terminar o curso e hoje trabalha normalmente num escritório de arquitetura em Copenhaga, conta o jornal espanhol.
O hematologista Pau Montesinos, coordenador do grupo espanhol de Leucemia Mieloide Crónica (GELMC), acredita que os novos dados são “bastante encorajadores”, mas mostra-se cauteloso quanto à nova descoberta, porque o Revumenibe ainda tem de ser testado em centenas de pessoas para que a sua segurança e eficácia sejam confirmadas. “Na grande maioria dos casos, estas terapias apenas podem inverter a leucemia, mas dificilmente a curam”, acrescentou o médico espanhol. “A estratégia será combinar estes novos medicamentos com a quimioterapia clássica ou outras abordagens”.
O comprimido não funciona em todos os casos. Os investigadores concentraram-se em dois subtipos genéticos da doença, em que a proteína “menin” facilita a progressão da leucemia. O Revumenibe liga-se a esta proteína e inibe-a, graças à combinação química de 32 átomos de carbono, 47 hidrogénio, um flúor, seis nitrogénio, quatro oxigénio e um de enxofre. Esta fórmula, designada de C32H47FN6O4S, salvou até agora a vida de 18 pessoas. Os resultados promissores foram publicados, pela revista científica “Nature”, nesta quarta-feira
A equipe de Montesinos, da Unidade de Leucemia do Hospital La Fe, em Valência, participará nos próximos ensaios internacionais do fármaco desenvolvidos pela Syndax Pharmaceuticals, sediada nos EUA.
O mecanismo de ação do Revumenibe – a inibição da proteína “menin” – é novo. Ghayas Issa estima que estes novos comprimidos podem ajudar quase 400 mil pessoas com leucemias agudas resistentes a outros tratamentos, tanto a mieloide como a leucemia linfocítica mais comum nas crianças.
Fonte: jn.pt