Como nos filmes, os EUA foram o primeiro país visado. A história começa com um balão – espião, garante Washington -, que acabou nas águas ao largo da Carolina do Sul. O Departamento de Estado norte-americano explica que, antes de ser abatido, o aparelho foi analisado em pleno voo por aviões U-2, que supostamente fotografaram equipamento de vigilância como antenas, revelando a sua verdadeira missão. A China, recorde-se, defende tratar-se simplesmente de um dispositivo meteorológico fora de rota e sublinha que balões dos Estados Unidos entraram no espaço aéreo chinês mais de uma dezena de vezes no ano passado.
O mais insólito surgiu depois: durante três dias seguidos, três objetos voadores não identificados – três OVNI, portanto – foram destruídos sobre a América do Norte, sem que ninguém saiba, ou não queira revelar, a sua natureza. A saber, sobrevoavam o Alasca, a região canadiana do Yukon e o Lago Huron, no Michigan, quando foram destruídos. Voam por todo o lado especulações sobre uma confirmação flagrante de atividade extraterrestre. A Casa Branca afasta a possibilidade – aliás o assunto provocou risadas na sala de imprensa, enquanto falava a porta-voz Karine Jean-Pierre, que não escondeu a incredulidade.
Uma questão de altura?
Fatos confirmados há muito poucos. Um deles é que o alegado balão-espião voava a 18 quilómetros de altitude, em plena estratosfera. Para Jean-Vincent Brisset, especialista do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS), isso pode ter uma explicação imediata. “Atualmente, os Estados Unidos, mas também a China, a França, sem dúvida a Rússia, e outros países importantes, estão a fazer investigação para tentar desenvolver novas armas, os chamados planadores hipersónicos. Uma boa parte do voo destes dispositivos decorre na estratosfera. Conhecemos muito pouco da estratosfera, em termos de composição, em termos dos ventos que circulam”, afirma Brisset.
Seria então o balão chinês um dispositivo exploratório com a missão de descobrir uma estratosfera estratégica, onde qualquer arma de guerra será muito difícil de interceptar?
Iain Boyd, diretor do Centro de Iniciativas para a Segurança Nacional, da Universidade do Colorado, explica que “esta região da atmosfera situa-se acima da faixa onde voam os aviões e abaixo do espaço. É uma região que não conhecemos totalmente”. E, portanto, uma vantagem para quem o conseguir fazer.
Os procedimentos mudaram e os objetos também
A verdade é que o NORAD, o organismo de defesa aeroespacial da América do Norte, apertou a precisão do sistema de radares após o primeiro balão, o que pode explicar o aumento na deteção de aparelhos.
Os destroços do “balão-espião” podiam atingir território com população, por isso só foi abatido em cima do Atlântico. Iain Boyd considera que era demasiado grande para ser um aparelho meteorológico, mas também tem dúvidas que Pequim enviasse material comprometedor, e com uma dimensão facilmente detetável, que pudesse cair nas mãos dos americanos. No mesmo dia, um outro objeto do mesmo género voou por cima da Colômbia, o que Bogotá viria a confirmar. No entanto, não foi desencadeada nenhuma ação para o destruir.
O último dispositivo interceptado, no Michigan, deslocava-se a 6 quilómetros de altitude, representando um perigo concreto para a aviação civil. Jean-Vincent questiona porque não há registos fotográficos nenhuns, nem pelos aviões que o abateram. Não era um balão? Ao que tudo indica, tratava-se, citamos as autoridades americanas, de uma “estrutura octogonal com fios pendurados”. O do Canadá, por exemplo, era cilíndrico.
Brisset realça que diariamente são lançados incontáveis dispositivos/balões de estudo. Não há propriamente um sistema internacional de controlo. Os equipamentos dispõem de localizadores. A trajetória, essa, pode ser imprevisível, dependendo de fatores como o vento.
O que parece consensual entre Brisset, Boyd e outros especialistas é que, muito provavelmente, cada um dos casos tenha uma explicação diferente.
Por Arnaud Rodrigues, de Portugal.
Fonte Euronews.pt