Biden e o futuro da América

O receio de que Donald Trump (que já anunciou a sua candidatura presidencial para 2026) possa regressar à Casa Branca tem sido o argumento principal entre os Democratas para a mobilização do partido.

Quando se aguarda que Biden aproveite os dias após o discurso do Estado da União, na noite da próxima terça-feira (madrugada de quarta-feira, em Portugal), para anunciar a sua recandidatura, as sondagens divulgadas nos últimos dias indicam que a popularidade do Presidente está em queda e que são muitos os que preferem um novo inquilino na Casa Branca, mesmo que seja do mesmo partido.

Vários analistas concordam em que Biden tem poucos meses para tomar uma decisão e alguns insistem que a sua margem para avançar diminui, quando o seu nome aparece envolvido numa investigação sobre a posse indevida de documentos classificados da era em que foi vice-Presidente de Barack Obama e quando aumenta de tom a oposição Republicana na Câmara de Representantes.

Louise Drake, analista política norte-americana a trabalhar na Universidade de Sussex, no Reino Unido, cita uma recente sondagem da revista The Economist e da YouGov, que revela que 58% dos eleitores não querem que Biden se recandidate, para defender que o Presidente está a perder argumentos para justificar o início da tradicional ronda inicial de angariação de fundos para um corrida eleitoral em 2026.

“Essencialmente, ele tem seis meses para apresentar a sua candidatura. A política tem horror ao vazio. Se não o fizer até ao final do verão, não faltará quem levante o braço e se proponha a tentar barrar a recuperação da Casa Branca pelos Republicanos”, disse Drake, em declarações à Lusa.

Para Robert Reich, professor da Políticas Públicas na Universidade da Califórnia em Berkeley, há ainda muitas variáveis em aberto e algumas delas contam a seu favor e podem mesmo constituir tema de abordagem política no discurso do Estado da União.

“A atuação de Biden na economia, clima, infraestruturas e defesa da democracia foram significativas, no entanto – muito mais significativas do que os seus lapsos na retirada do Afeganistão ou o facto de ter mantido por engano alguns documentos classificados”, argumenta Reich.

Seja como for, no interior do Partido Democrata e nos corredores do Congresso onde Biden irá ler o discurso do Estado da União, o tema de conversa já começa a ser o do nome alternativo ao de Biden, se este não quiser concorrer contra os Republicanos, especialmente se ele se sentir com pouca capacidade física, tendo em conta que terminaria o segundo mandato com 86 anos.

A esperança de ver a vice-Presidente, Kamala Harris, avançar para uma candidatura de continuidade parece cada vez mais longínqua, à medida que aquela não descola de sofríveis indicadores de popularidade.

“Kamala saiu da corrida praticamente no início do mandato, quando não se conseguiu afirmar politicamente em várias áreas da sua tutela”, defende Louise Drake, recordando que não faltam figuras no partido, mesmo que ainda não tenham muita notoriedade.

E Reich lembra que também quase ninguém tinha ouvido falar de Bill Clinton ou de Jimmy Carter, antes eles se candidatarem e vencerem eleições presidenciais.

Os analistas acreditam que Biden deverá aproveitar o discurso do Estado da União para fazer um balanço muito positivo da sua fase inicial de mandato, aproveitando o embalo do resultado surpreendente (embora não totalmente positivo) nas eleições intercalares de novembro passado e preparando o terreno para evitar o crescimento político dos Republicanos.

O receio de que Donald Trump (que já anunciou a sua candidatura presidencial para 2026) possa regressar à Casa Branca tem sido o argumento principal entre os Democratas para a mobilização do partido, mas a incógnita dos planos de Biden está a fazer arrefecer planos de posicionamento político.

“Biden tem como trunfo já ter derrotado Trump. E poder prometer que o consegue fazer de novo”, conclui Reich.

Fonte: Noticia ao minuto/Lusa
Foto: Direitos autorais: Copyright 2023 The Associated Press.

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