Antigo Egito: Descoberto o processo de mumificação

Foram encontrados mais de cem vasos que continham instruções hieroglíficas que explicavam quais as substâncias que estavam guardadas e como usá-las para o processo de embalsamamento.

Arqueólogos egípcios e alemães encontraram mais de cem vasos no cemitério da cidade de Saqqara que estavam cheios com as substâncias usadas para embalsamar os mortos. Muitos destes recipientes contêm também instruções para embalsamar os corpos e sobre como preparar as múmias para a vida eterna.

Apesar de já terem sido analisados vários papiros de embalsamamento e restos de múmias, o complexo processo de mumificação que ocorria na civilização egípcia permanece sob grande mistério. Os investigadores sabiam que o processo era composto por cera de abelha, graxa obtida no Mar Morto, óleo de cedro proveniente do atual Líbano, óleo de pistáchio das terras persas e carbonato de sódio (que tanto era usado para salgar a carne como para conservar os cadáveres), no entanto não era conhecido quando e como cada um destas substâncias eram utilizadas.

Todas as instruções necessárias ficaram agora reveladas nas cerâmicas descobertas pelos arqueólogos em Saqqara – a principal cidade dos mortos em Memphis, capital do Império Antigo egípcio, durante mais de três mil anos.

Em 2016 tinha sido descoberta na cidade uma oficina de embalsamamento a poucos metros de uma pirâmide em ruínas. A oficina tinha várias salas mas a principal seria a de evisceração e foi aí que foram encontrados os mais de cem vasos.

Através de sofisticadas técnicas de análises, como espetrometria de massa e cromatografia gasosa, os arqueólogos detetaram muitas das substâncias que já tinham sido relacionadas com os embalsamadores mas sobretudo misturas nunca antes encontradas. Além disso, os vasos continham instruções hieroglíficas que explicavam as substâncias aí guardadas e como usá-las. Por exemplo, um dos vasos refere que se deve aplicar na pele, ao terceiro dia, cera de abelha aquecida e misturada com gordura animal.

Ficou também esclarecido que todo o processo de embalsamamento demorava, entre os diferentes tratamentos e as orações, 70 dias.

Um dos autores do estudo, Philipp Stockhammer da Universidade Ludwig Maximilian em Munique, afirmou que ficou “fascinado pelo conhecimento químico dos antigos egípcios”, uma vez que “no processo de embalsamamento, depois de o corpo ser removido do sal de natrão, a pele corre imediatamente o risco de ser colonizada por micróbios, que a devorariam”. Porém, os embalsamadores já “sabiam quais as substâncias que precisavam de colocar na pele para a manter bem preservada”.

Em seis dos vasos foram encontradas informações sobre como lavar os corpos, reduzir os odores corporais e devolver a maciez à pele. Foram encontradas também fórmulas específicas que pretendiam tratar o fígado e o estômago vazios.

O relatório do estudo foi publicado na revista Nature e refere ainda que agora passou a ser possível relacionar as substâncias atuais presentes “nos nomes de muitos dos ingredientes para embalsamamento”. Por exemplo: “A substância rotulada pelos antigos egípcios como antiu há muito que foi traduzida como mirra ou incenso. Mas agora conseguimos mostrar que na realidade tratava-se de uma mistura de ingredientes muito diferentes que conseguimos separar”, este antiu era uma mistura de óleo de cedro, zimbro e gorduras animais”.

Tendo em conta todos os ingredientes utilizados durante o processo de mumificação é possível ver que era utilizado óleo de argão vindo do norte de África, óleo de cipreste e zimbro vindos da Turquia ou da Península Ibérica e a goma dammar proveniente de uma resina de Shorea selanica, uma árvore que apenas existe na Indonésia. Os investigadores concluem que “a mumificação egípcia provavelmente desempenhou um papel importante no início das redes globais”.

Fonte:Sabado.pt
Foto: By REUTERS/Mohamed Abd El Ghany

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