Inflação em queda pode afastar o fantasma da recessão na Europa

Os países da União Europeia caminhavam para uma recessão profunda e calamitosa por causa da invasão russa da Ucrânia, que causou uma crise energética devastadora e inflação.
A queda constante nos preços do gás é um dos fatores que leva ao otimismo

Os países da União Europeia caminhavam para uma recessão profunda e calamitosa por causa da invasão russa da Ucrânia, que causou uma crise energética devastadora e inflação.

A previsão foi notícia de primeira página em todo o continente e desencadeou um sentimento de profundo pessimismo entre consumidores e investidores, que gradualmente se resignaram à terceira contração econômica em menos de três anos.

Mas ao fim de quase um ano de guerra, o otimismo aumenta: “Há notícias mais positivas nas últimas semanas”, disse a diretora do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, no Econômico Mundial em Davos, na semana passada.

“Não é um ano brilhante, mas é muito melhor do que aquilo que temíamos. Há uma oportunidade de evitar uma recessão profunda e talvez entrar numa contração mais limitada e superficial”, disse, por seu lado, Paolo Gentiloni, o comissário europeu para a Economia.

A queda constante nos preços do gás é um dos fatores. Os preços no Transfer Title Facility (TTF), a principal bolsa de comércio de gás na Europa, desceram abaixo dos 70 euros por megawatt-hora.

Um início do ano anormalmente quente, associado a um forte armazenamento subterrâneo para satisfazer a procura extra, e chegadas consistentes de gás natural liquefeito (GNL) às costas europeias parecem ter injetado um grau de certeza no mercado até agora explosivo.

“Tanto consumidores como produtores fizeram grandes esforços para  reduzir o consumo de gás”, disse Maria Demertzis, do Centro de Estudos Bruegel, em Bruxelas.

“Uma observação muito interessante é que as indústrias conseguiram reduzir o seu consumo de gás sem uma redução correspondente na produção, uma vez que foram muito inventivas no processo. Esta é uma grande notícia para a resiliência e adaptabilidade da nossa indústria”, acrescentou.

Uma revisão otimista foi feita recentemente pela Goldman Sachs, que abriu o seu relatório de janeiro com a pergunta “Irá a economia da zona euro entrar em recessão”, e respondeu claramente: “Não, atualizamos as nossas previsões e já não esperamos uma recessão técnica”.

A equipe da Goldman Sachs enumerou três razões principais: dados “surpreendentemente resilientes” do setor industrial europeu, queda acentuada dos preços do gás e reabertura da economia chinesa após meses de confinamento.

Como resultado, o banco de investimento prevê agora taxas de expansão de 0,1%, tanto para o primeiro como para o segundo trimestre de 2023, de -0,4% e -0,1%, respectivamente, na previsão anterior, para um valor de 0,6% até o final do ano.

“Prevemos um período de fraco crescimento em vez de uma recessão durante os meses de inverno, embora a probabilidade de uma recessão técnica se mantenha elevada em 40% durante o próximo ano”, considerou a Goldman Sachs numa nota aos investidores.

O relatório, contudo, sublinhou que o crescimento entre os 20 países que utilizam o euro como moeda variaria consideravelmente, com a Alemanha e a Itália, dois estados que dependiam fortemente dos combustíveis fósseis russos, ainda “à beira da recessão”.

 

A inflação na zona euro atingiu finalmente o seu pico?

Os últimos números divulgados pela agência de estatísticas da União Europeia – Eurostat – indicam que a inflação na zona euro caiu de um máximo sem precedentes de 10,6%, em outubro, para 9,2%, em dezembro.

O regresso ao território de um dígito apanhou muitos de surpresa e alimentou ainda mais a onda de otimismo, mesmo que a inflação de base, que exclui os preços voláteis da energia e dos alimentos, permaneça elevada.

Sinais mais encorajadores continuam a surgir: dados divulgados este mês pela Comissão Europeia mostraram que a confiança dos consumidores em toda a zona euro situa-se agora em -20,9%.

“A recuperação do sentimento dos consumidores nos últimos meses aponta para um nivelamento do declínio nas vendas a retalho”, disse Ken Wattret, vice-presidente de análise e insights da S&P Global Market Intelligence, em declarações por escrito à Euronews.

Wattret observou que a balança comercial da zona euro, que passou de excedente para défice em 2021, à medida que as importações de energia se tornaram cada vez mais onerosas, continua a diminuir a favor do bloco, atingindo um défice de 11,7 mil milhões de euros em novembro, o valor mais baixo registrado desde fevereiro.

O desemprego, outro indicador obrigatório, permanece estável e abaixo do limiar de 7%, sugerindo que o temido cenário de empresas forçadas a despedir milhares de trabalhadores, para fazer face às despesas, ainda não se concretizou.

Oliver Rakau, economista chefe da Oxford Economics, admitiu que nas últimas semanas “as boas notícias superaram claramente as más notícias”, mas adotou uma abordagem mais cautelosa quando questionado sobre se a zona euro estava fora de perigo.

“Os preços da energia continuarão a ser muito mais elevados do que noutras regiões do mundo face ao que estavam antes da guerra na Ucrânia. Muitas empresas terão coberto pelo menos parte das suas necessidades energéticas para este ano com os preços muito elevados do ano passado”, disse Rakau à Euronews.

“Assim, as empresas de energia intensiva ainda terão de analisar se uma presença contínua na Europa é sustentável”, acrescentou.

Na opinião de Rakau, os males econômicos da zona euro precisam ser analisados na ótica do abrandamento econômico global e de uma procura fraca.

O BCE promete domar a inflação e espera-se que as taxas de juros aumentem  em 50 pontos de base, tanto em fevereiro como em março.

“Embora tenhamos suavizado a previsão de recessão e pensemos que há menores riscos, ainda não estamos convencidos de que a zona euro evitará uma recessão (técnica)”, disse Rakau.

Fonte: Euronews.pt
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